segunda-feira, 14 de setembro de 2015


Tal como Dhlakama prometeu

 Renamo activa quartel de Morrumbala

O porta-voz do segundo maior partido com assento parlamentar na Assembleia da República, António Muchanga, anunciou semana finda, em Maputo, a montagem e reactivação do quartel-general de Morrumbala, na província da Zambézia. A montagem do quartel-general acontece numa altura em que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou a interrupção do diálogo político e a sua indisponibilidade em se encontrar com o Presidente da República, Filipe Nyusi, com a agenda de discutir a Paz.

Elísio Muchanga

Numa altura em que o país vive um momento político conturbado, com o diálogo político do Centro de Conferências Joaquim Chissano encalhado, e unilateralmente interrompido pela Renamo, aquele partido político anunciou a reactivação do quartel de Morrumbala, numa clara medição de força com as autoridades governamentais que defendem a existência duma única força.   

A criação do quartel de Morrumbala que, segundo António Muchanga, já está activo é fruto duma decisão tomada por ex-guerrilheiros durante a Conferência Nacional do partido, realizada há dias na cidade de Quelimane.

 

Segundo Muchanga, a decisão de montagem do quartel-general em Morrumbala não é do presidente Dhlakama, mas dos próprios veteranos da luta pela democracia e o líder da perdiz apenas consentiu a decisão como forma de evitar que houvesse cisão no seio do partido, o que seria muito perigoso para a democracia que se pretende consolidar, tendo em conta que qualquer combatente poderia tomar decisão pessoal e pegar em arma sem um comando seguro.

 
Ainda de acordo com Muchanga, o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, esteve recentemente no local e próximo do mesmo chegaram duas viaturas da Unidade de Intervenção Rápida, alegando terem sido mandados pelo comandante provincial da Zambézia para reforçar a escolta do líder da Renamo, porém, foram dispensados porque o líder da Renamo se sente seguro sem eles, tendo em conta que o abandonaram em Tete, mesmo quando as negociações decorriam.

Recorde-se que o anúncio da criação do quartel-general ocorreu depois do fracasso de vários acordos assinados entre a Renamo e o Governo dirigido pela Frelimo.

Em discurso ao público presente, Afonso Dhlakama lembrou que o acordo de cessação das hostilidades, assinado em Setembro do ano passado permite a criação do quartel.
“O conteúdo daquele acordo falava da entrada dos comandos da Renamo no seio da Polícia e também nos lugares-chave no seio das Forças Armadas”, declarou Dhlakama.

Além de enviar guerrilheiros para o quartel, Dhlakama disse na ocasião que vai recrutar mais jovens para receberem formação e servir ao Exército e à Polícia. “Decidimos criar nossas Forças Armadas, constituídas por aqueles que lutaram pela democracia”, afirmou.

 “Simboliza tomada de posição”

 -Lourenço do Rosário

O académico e observador do diálogo político no Centro de Conferências Joaquim Chissano, Lourenço do Rosário, é da opinião de que temos que ver a simbologia do anúncio do quartel-general no espaço do conflito. Para o académico, o quartel-general simboliza a tomada de posição turbulenta, porque “quando vimos polícia e soldado isto não é um bom sinal, mas pode ser símbolo para forçar a flexibilidade por parte do Governo para um outro modelo político”, salientou.

 O académico frisou que há pouca vontade de se fazer guerra no país, mas sim forçar um novo modelo de diálogo, pois o modelo de diálogo do Centro de Conferências Joaquim Chissano está esgotado pelas razões conhecidas.

Do Rosário enfatizou que é preciso ler o que os dirigentes dizem, pois “Dhlakama disse num dos seus comícios aos seus homens que se quiserem fazer a guerra não contem com ele; para mim este quartel-general simboliza uma preparação para guerra mas também pode ser que seja uma forma de forçar o diálogo numa posição de força”.  

 “É resultado de intolerância”

-Raul Domingos

Para o político e antigo negociador do Acordo Geral de Paz, Raul Domingos, a activação do quartel-general da Renamo, em Morrumbala, é resultado de intolerância e falta de vontade política de se resolver as diferenças.

 Para Domingos, o resultado disto parte da arrogância na Assembleia da República que rejeitou o projecto de lei da descentralização da administração pública em resposta da vontade expressa pelo povo nas urnas.

“É preciso perceber que sistematicamente a população tem emitido sinais da sua escolha política e é preciso que os políticos saibam dar respostas a esses sinais emitidos pelo povo, respeitar as vontades do povo tal como o fez o povo das zonas que a Renamo hoje reivindica”, explicou o antigo negociador-chefe do Acordo Geral de Paz de Roma.

Para Raul Domingos, não está nada perdido, embora isto evidencie um sinal de regresso a guerra, mas isso só poderá vir a acontecer apenas quando persistir a intolerância, pois acredita que ninguém está disposto a voltar a um conflito armado. 

 “A Renamo está contra a vontade do povo moçambicano”

- Damião José

 Para o porta-voz da Frelimo, partido no Governo, Damião José, o anúncio da montagem do quartel-general de Morrumbala pela Renamo mostra que ela cumpre agendas contrárias às do povo moçambicano.

Segundo o porta-voz da Frelimo, se a Renamo se desenrola em esforços para activação dos seus homens e municiá-los, tal como ela defende a instalação de quartéis, a perdiz está com isso a mostrar claramente que estão contra a vontade do povo moçambicano.

“E isso nos faz questionar o que a Renamo como partido político quer, porque a existência dos partidos é para trabalhar para o bem dos moçambicanos. Portanto, se a Renamo se esforça em trabalhar contra o bem do povo moçambicano já não percebemos o que a Renamo quer”, contestou.

O porta-voz e deputado da Frelimo referiu que a Renamo cumpre agendas que não têm nada a ver com a vontade dos moçambicanos mas com a vontade dos patrões, interessados em criar um ambiente de desestabilização, pois ela tem sido incoerente consigo mesmo.

Damião José apela a todos os moçambicanos a lutar sem medir esforços para desencorajar a todos aqueles que tudo fazem para pôr em causa a paz, neste momento concreto a Renamo e o seu líder Afonso Dhlakama, porque os moçambicanos são um povo de paz, humilde, que quer continuar a construir a paz e a desenvolver o país.

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