quarta-feira, 19 de março de 2014

HIV nas zonas fronteiricas tende a baixar





Na província de Maputo
 

Zonas fronteiriças registam menor taxa de incidência do HIV/SIDA
….o País ainda regista níveis preocupantes e compromete os ODMs
 



As zonas fronteiriças da região Sul do País, na província de Maputo, tidas como zonas de maior risco, registam uma redução considerável da taxa de incidência de HIV/SIDA nos últimos anos. Segundo dados em nosso poder, em 2013 o distrito de Namaacha registou uma incidência de 18,3% e Moamba 19,9%. Apesar dos esforços empreendidos pelo Governo no combate ao HIV, o Objectivo para o Desenvolvimento do Milénio (ODM), já esta comprometido, uma vez que se verifica o corte de finaciamento aos programas de HIV/Sida pelos doadores na ordem de 90 milhões de meticais, para apenas 3 milhões. Segundo o relatório da ONUSIDA, Moçambique regista níveis preocupantes nos PALOPs, sendo que mais de 11 pessoas em cada 100 têm a doença, ou seja, são mais de um milhão e seiscentas mil pessoas a viverem com o vírus em Moçambique.
 
Texto: Elísio Muchanga

Os distritos fronteiriços tidos como zonas de maior risco devido a alta mobilidade, estão a apresentar resultados encorajadores nas acções de prevenção tratamento e combate ao HIV/SIDA, comparativamente com as zonas não fronteiriças, mesmo com o corte dos doadores ao financiamento dos programas de prevenção, tratamento e combate aos HIV sida.
Dados obtidos pelo Magazine indicam que só em 2013, o Distrito de Namaacha registou uma taxa de incidência de 18,3 porcento, e Moamba com 19,9 porcento. Matutuine registou 12,6 porcento, comparativamente as zonas que não fazem fronteira como Manhiça que registou a taxa de incidência mais alta da província de Maputo com 28,5%.
O Coordenador do Núcleo Provincial de Combate ao Sida (NPCS), Delso Damas, explica que, no caso do Distrito de Moamba, que faz fronteira no Posto Administrativo de Ressano Garcia.

 “Sendo um corredor onde circula muita gente e bens, estes números justificam-se pelo facto de neste local estarem cerca de 6 organizações da sociedade civil altamente estruturadas a desenvolver diversas acções na área de prevenção de novas infecções por VIH”.
Acrescentou que “estas organizações fazem a sensibilização de pessoas de alta mobilidade com destaque para os camionistas, viajantes, paramilitares, jovens e trabalhadoras de sexo, no sentido de fazer a promoção do uso do preservativo tanto masculino como o feminino, bem como a aderirem aos serviços de saúde disponíveis naquela região, como exemplo a testagem e o tratamento anti-retroviral, bem como a campanha de circuncisão masculina”.
Segundo Damas, para as pessoas já infectadas garante que o Governo tem sensibilizado as pessoas a aderir ao tratamento como forma de prolongar o tempo de vida.

Namaacha num bom caminho na luta contra o Sida 

O Distrito da Namaacha que faz fronteira com a Suazilândia, segundo dados oficias, registou, em 2013,um número de 454 pessoas a aderirem aos serviços de TARV, e 80 mulheresgrávidas a aderirem ao Programa de Transmissão Vertical, mesmo com constrangimentos de vária ordem, na prevenção, tratamento e combate ao Sida que muitas vezes se resume no défice de alimentação dos doentes em TARV, percorrem longas distâncias para obter os medicamentos.


Este factor faz com que o distrito se dê por satisfeito, e avalie de forma positiva as actividades desenvolvidas atinentes à prevenção tratamento e combate ao HIV sida.
A médica chefe do centro de Saúde de Namaacha, Maria Chongo, faz uma avaliação positiva do desempenho do distrito, sustentando haver cada vez mais doentes a aderirem às consultas. “E já não há muitos receios por parte de residentes em fazer o teste de HIV”, disse para depois admitir haver uma oscilação em relação aos abandonos. Porém, segundo a médica, o Centro de Saúde tem feito buscas activas de doentes, quando se apercebe que os mesmos são faltosos ao tratamento.
Frisou que “nós procuramos trazer de volta os doentes às consultas. Repetimos o aconselhamento, mostramos as vantagens de fazer o tratamento. É por isso que no ano de 2011, houve 66 abandonos, e em 2012 mais de 94. Isto mostra que houve um aumento de abandonos, e que a busca activa não funcionou muito, mas em 2013 obteve-se 37 abandonos o que é positivo”.
Acrescentou que “alguns doentes não fazem o tratamento nas unidades sanitárias próximas às suas residências, porque ainda há estigma, discriminação e receio dos vizinhos, colegas, e muitas vezes são dadas como abandonadas numa unidade sanitária, enquanto são activas noutra”. 

Associação Tiyane, uma das poucas que ainda resiste


Num total de 16 associações comunitárias que existiam em Namaacha onde se promovia a advocacia no combate ao HIV bem como apoiar os doentes em estado crítico, a associação Tiyane figura das 8 associações activas.
Segundo Domingos Palma Pinto, coordenador da associação Tiyane, muitas associações desapareceram devido à falta de financiamento que antes tinham das ONGs.
A Tiyane tem feito visitas domiciliárias a portadores do vírus do Sida, campanha de sensibilização no que diz respeito à mitigação, combate à droga e ao álcool.
O coordenador da associação, Palma Pinto, explica que associação trabalha com os portadores do vírus do Sida, onde tem como actividade a formação de grupos familiares em colaboração com o Posto de Saúde. Dentre eles, um é eleito com a missão de ir ao posto de Saúde levar medicamentos para o grupo. “ Isso acontece de forma rotativa. Só assim, se consegue ver quem realmente está a tomar os medicamentos, e quem não o faz”.

Há falta de sustentabilidade em alguns projectos desenvolvidos pelas ONGS

A luta pelo combate ao HIV ao nível dos distritos acarreta custos financeiros elevados e aquisição de recursos humanos. Facto que tem sido, em alguns ocasiões, levado a cabo por organizações não governamentais, através da prestação de apoio às diversas associações comunitárias que procuram minimizar e estancar o impacto negativo da epidemia.
Segundo fonte do Conselho Nacional de Combate ao Sida, algumas organizações não governamentais que prestam apoio às comunidades desenvolvem programas que não têm tido seguimento após o término dos seus projectos.
A resposta comunitária ao HIV/SIDA em Moçambique ainda não é sustentável, porque as várias ONGs elaboram projectos a prazos curtos.
Alguns projectos desenvolvidos por algumas ONGs não são sustentáveis porque findo o projecto as ONGs abandonam o local e as comunidades retrocedem na luta contra a epidemia. 

Governo aloca 4 milhões de meticais para resposta comunitária ao HIV/SIDA
 
De modo a responder ao corte do financiamento dos doadores aos projectos de combate ao Sida e à insustentabilidade de alguns projectos comunitários desenvolvidos por algumas ONGs, o Governo está a financiar na ordem de quatro milhões de meticais as diversas associações ao nível distrital.
De acordo com o Coordenador do Núcleo provincial de combate ao Sida, Delso Damas, garante que esta é uma das respostas do Governo face ao corte drástico dos doadores para a resposta do combate ao HIV/SIDA e a desistência de algumas ONGs das comunidades.
Explica que, só no ano passado 2013, o distrito da Namaacha recebeu cerca de 595 mil meticais tendo, em conta o facto de este distrito ter duas fronteiras: a de Goba e a da Namaacha sede, enquanto o distrito da Moamba onde fica o posto fronteiriço de Ressano Garcia recebeu 350 mil meticais e para 2014 espera-se alocar o mesmo valor para os dois distritos.
Acrescentou que “ justifica-se a alocação directa do valor às comunidades pelo facto destas conhecerem as suas reais necessidades, e pelo facto destas poderem ser livres de imposições externas dos doadores através das ONGs”.

Corte do Orçamento pelos doadores diminui capacidade de resposta ao HIV/ SIDA


Segundo apurámos, o corte do financiamento aos programas de HIV/SIDA pelos doadores internacionais de 90 milhões de meticais para apenas 3 milhões alocados ao Conselho Nacional de Combate à Sida (CNCS) diminuiu a  capacidade de resposta ao combate ao HIV.
Para dar a volta a esta situação, o Governo, através do orçamento do Estado, apostou na descentralização com acções viradas para o HIV/SIDA em adultos, tuberculose e malária em crianças.
Segundo Delso Damas explica, o impacto resultante do corte na resposta distrital do combate à epidemia “verifica-se na diminuição drástica da qualidade de resposta à epidemia”.
Informações avançadas pela Médicos Sem Fronteiras indicam que a resposta do HIV/SIDA em Moçambique está dependente dos doadores internacionais em cerca de 96 porcento, estando o Governo a cobrir quatro porcentos destes financiamentos. O Governo também conta com o apoio do plano de Emergência do Presidente Americano para Alívio do Sida (PEPFAR) juntamente com o Fundo Global que têm sido os principais doadores na resposta ao HIV, e ambos asseguram o fornecimento do tratamento anti-retroviral em 2013 e no ano em curso.

A batalha contra o estigma e descriminação
 
A estigmatização e a discriminação das vítimas do HIV/SIDA mostram-se longe de acabar. Nas zonas rurais são tidas como as que mais discriminam e estigmatizam as pessoas com HIV\SIDA devido ao pouco conhecimento sobre a epidemia.

Marta Francisco conta que quando descobriu que era seropositiva e pelo desespero contou a alguns membros da sua família na esperança de ter algum tipo de apoio, facto que, segundo ela, não aconteceu de como esperava. “É muito difícil viver com este tipo de situação, sem poder mais contar com as pessoas de confiança. Já estou a habituar-me a viver com o estigma, embora não seja fácil. O engraçado é que algumas pessoas que me ignoravam e propagaram sobre o meu estado na vizinhança, agora têm filhas doentes e, por vergonha, fazem o tratamento longe do bairro”.
Albertina Cossa, de 38 anos, viúva e mãe de 4 filhos que carrega consigo o vírus de HIV, doença que supostamente terá custado a vida ao seu marido, conta que por temer ser estigmatizada no bairro em que vive preferiu fazer o tratamento anti-retroviral no bairro a 40 quilómetros de onde vive. “ As pessoas daqui ainda não estão preparadas para aceitar isto naturalmente, sei que aqui no bairro são muitas pessoas com esta doença – meninas e jovens mas não conheço ninguém que faz o tratamento no Centro de Saúde do seu bairro, é triste”.

Mais seropositivos na África subsahariana


Apesar de Moçambique registar 11,5 porcento da taxa de prevalência do HIV/ SIDA, segundo o estudo do INSIDA realizado em 2009, o relatório do Programa da ONU sobre o VIH/SIDA indica haver 2,5 milhões novos casos da doença em todo o mundo. Nos PALOP, Cabo Verde continua a ser o país com menor incidência. Já Moçambique alcança níveis mais altos.
O relatório, divulgado  nos finais do ano passado, aponta que existem em todo o mundo cerca de 35,3 milhões de seropositivos, a maioria na África subsaariana.
O documento aponta ainda que nos PALOPs, entre 2001 e 2012, Cabo Verde manteve-se como o país lusófono africano com menor taxa de prevalência. São Tomé e Príncipe aparece logo a seguir com cerca de 1000 casos em 2012. Nestes dois países, assistiu-se ao recuar da epidemia, algo que não se verificou em Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau. Em Angola, os casos aumentaram para 2,3% em 2012. Na Guiné-Bissau, quase quatro em cada 100 pessoas está infectada. Mas é em Moçambique que os números são mais preocupantes mais de 11 pessoas em cada 100 têm a doença, ou seja, são mais de um milhão e seiscentas mil pessoas a viverem com o vírus.




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