terça-feira, 29 de julho de 2014


Crianças da Escola Primária Joaquim Chissano entregues à sua sorte

Os alunos da Escola Primária Joaquim Chissano, em Santa Isabel, distrito de Marracuene, clamam por melhores condições de aprendizagem. Os educandos estudam em precárias condições, pois a escola está degradada e, ainda, com insuficiência de salas de aula, inexistência de carteiras e do livro gratuito.
Texto: Elísio Muchanga

São cerca de 910 crianças da 1ª à 5ª classe que estão sujeitas a aprender em condições precárias e perigosas para um razoável início da vida académica. 
Tudo começa no início de 2013, quando um forte vendaval abalou e destruiu quase por completo a escola primária local, apelidada Joaquim Alberto Chissano, colocando mais de 9 dezenas de petizes a aprender em condições precárias.

A modesta escola, de apenas 5 salas de aula, localizada a menos de 10 quilómetros da capital do país e que carrega consigo o nome do homem que rubricou os Acordos Gerais de Roma, tem falta de tudo para uma criança iniciar com a aprendizagem.

Inaugurada em 2005, debate-se com problemas estruturais relacionados com a degradação da infra-estrutura, o que coloca em perigo os petizes de 6 a 10 anos que ali tentam se formar como homens do amanhã.
A falta de carteiras, desde a sua existência, bem como a fraca consistência das paredes que compõem as 5 salas de aula, chegam a confundi-la com meras capoeiras.
A escola tem 15 turmas com 50 a 70 alunos, que estudam todos no chão, facto que afecta o aperfeiçoamento da caligrafia do aluno.

Precariedade de condições afecta rendimento dos menores

 De acordo com o director da escola, Serôdio Roque, há falta de carteiras, insuficiência de salas, e a cobertura das poucas existentes contribui negativamente para o aproveitamento pedagógico dos petizes que ainda estão a iniciar a aprendizagem.
Roque afirma que os professores e os alunos têm trabalhado em condições precárias, pois as salas desde que foram destruídas pelo vendaval, em 2013, nunca foram reabilitadas.

Afirma ainda que a escola é pequena mas tem um número elevado de alunos, facto que força a leccionar debaixo das árvores, o que faz com que nos dias de chuva ou qualquer intempérie não haja aulas, o que contribui negativamente para o aproveitamento do aluno, que ronda nos 60 a 80 porcento, devido às condições precárias de trabalho.

“A falta de infra-estruturas afecta no aproveitamento, porque a criança estuda fora e no chão, sendo que qualquer movimento estranho desperta a criança e esta fica distraída, mas mesmo assim o professor faz o melhor de si”, frisou o director, acrescentando que apesar de a direcção tentar fazer turmas mistas para evitar dispensar alunos, a medida não chega a surtir efeitos, pois as poucas salas que existem têm problemas graves de cobertura.
Para além dos problemas já referenciados que se abatem sobre a escola que carrega o nome do antigo estadista moçambicano, e vencedor do Prémio Mo Ibraimo, a escola queixa-se da falta de carteiras e das condições precárias de sanidade para os petizes e professores, pois vezes sem conta estes têm que partilhar as mesmas casas de banho com os alunos.

Governo a par da situação, mas tarda agir

As condições deploráveis e perigosas de aprendizagem em que estão sujeitadas as crianças da Escola Primária Joaquim Chissano, no distrito de Marracuene, não é novidade para as autoridades competentes.
De acordo com o director da escola, a governo distrital já visitou a escola no ano passado, tendo na altura prometido melhorar as condições, porém, de lá a esta parte nada se materializou de modo a reduzir este sofrimento.
Este refere que já foram feitos pedidos de reabilitação da escola a instituições não-governamentais, mas até agora ainda não há resposta dos pedidos formulados.

 Comunidade local põe mão à obra

 A comunidade de Santa Isabel, local onde se localiza a escola, de tanto esperar e ver o sofrimento dos seus filhos decidiu contribuir na construção de uma sala de aula.
Segundo um antigo professor da escola, de nome Celestino, a comunidade, de tanto ver os menores a estudarem em precárias condições, decidiu há três anos construir mais uma sala de modo a reduzir o sofrimento das crianças.
Porém, a sala construída pela comunidade não teve o devido acabamento, devido à exiguidade de fundos por parte da comunidade, que na sua maioria não tem fontes de rendimento sustentável e depende da agricultura. 
A infra-estrutura inacabada já apresenta sinais de degradação, constituindo mais um perigo para as crianças.

 Professores queixam-se de falta de livro
Os professores daquela escola queixam-se das precárias condições a que estão sujeitos no seu dia-a-dia para fazer com que os petizes aprendam a escrever de forma condigna.
As inquietações dos professores daquela instituição de ensino primário partem da falta duma sala para professores, quadros para leccionar, pois os poucos existentes são muito pequenos, e da falta do livro para o aluno, facto que dificulta o seguimento da metodologia a implementar, dado que o livro de distribuição gratuita não foi suficiente para todas as crianças.


 Petizes pedem carteiras e salas de aula

 Os alunos da Escola Primária Joaquim Chissano são menores de idade, mas parece que sabem do que falta na sua escola e que em condições normais não lhes deveria faltar. Estas são quase que unânimes e pedem a quem de direito para proporcionar condições condignas de aprendizagem.
Falando ao Magazine, Chaila Chongo, aluna da 3ª classe, queixou-se da falta de salas de aula e pede carteiras, pois diz estar cansada de estudar no chão.

“Nós estudamos no chão e quando volto para casa a mamã diz que sujei o uniforme. Estamos a pedir carteiras para a nossa escola. Não queremos sentar no chão”, frisou.
Joaquina Matine queixa-se de não poder estudar numa sala de aula com carteiras, afirmando que na sua antiga escola estudava na sala sentada na carteira, daí que pede salas e carteiras para a escola.

 “Eu estudava numa sala sentada na carteira, mas aqui nesta escola sentamos no chão e estudamos fora”, disse.

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