Tal como Dhlakama prometeu
Renamo
activa quartel de Morrumbala
O
porta-voz do segundo maior partido com assento parlamentar na Assembleia da República,
António Muchanga, anunciou semana finda, em Maputo, a montagem e reactivação do
quartel-general de Morrumbala, na província da Zambézia. A montagem do quartel-general
acontece numa altura em que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou a
interrupção do diálogo político e a sua indisponibilidade em se encontrar com o
Presidente da República, Filipe Nyusi, com a agenda de discutir a Paz.
Elísio
Muchanga
Numa altura em que o
país vive um momento político conturbado, com o diálogo político do Centro de Conferências
Joaquim Chissano encalhado, e unilateralmente interrompido pela Renamo, aquele
partido político anunciou a reactivação do quartel de Morrumbala, numa clara
medição de força com as autoridades governamentais que defendem a existência
duma única força.
A criação do quartel de Morrumbala que, segundo António
Muchanga, já está activo é fruto duma decisão tomada por ex-guerrilheiros
durante a Conferência Nacional do partido, realizada há dias na cidade de
Quelimane.
Segundo Muchanga, a decisão de montagem do quartel-general
em Morrumbala não é do presidente Dhlakama, mas dos próprios veteranos da luta
pela democracia e o líder da perdiz apenas consentiu a decisão como forma de
evitar que houvesse cisão no seio do partido, o que seria muito perigoso para a
democracia que se pretende consolidar, tendo em conta que qualquer combatente poderia
tomar decisão pessoal e pegar em arma sem um comando seguro.
Ainda de acordo com Muchanga, o presidente da
Renamo, Afonso Dhlakama, esteve recentemente no local e próximo do mesmo
chegaram duas viaturas da Unidade de Intervenção Rápida, alegando terem sido
mandados pelo comandante provincial da Zambézia para reforçar a escolta do
líder da Renamo, porém, foram dispensados porque o líder da Renamo se sente
seguro sem eles, tendo em conta que o abandonaram em Tete, mesmo quando as
negociações decorriam.
Recorde-se que o anúncio da criação do quartel-general
ocorreu depois do fracasso de vários acordos assinados entre a Renamo e o Governo
dirigido pela Frelimo.
Em discurso ao público presente, Afonso Dhlakama
lembrou que o acordo de cessação das hostilidades, assinado em Setembro do ano
passado permite a criação do quartel.
“O conteúdo daquele acordo falava da entrada dos
comandos da Renamo no seio da Polícia e também nos lugares-chave no seio das Forças
Armadas”, declarou Dhlakama.
Além de enviar guerrilheiros para o quartel, Dhlakama disse na ocasião
que vai recrutar mais jovens para receberem formação e servir ao Exército e à Polícia.
“Decidimos criar nossas Forças Armadas, constituídas por aqueles que lutaram
pela democracia”, afirmou.
“Simboliza tomada de posição”
-Lourenço do Rosário
O académico e
observador do diálogo político no Centro de Conferências Joaquim Chissano,
Lourenço do Rosário, é da opinião de que temos que ver a simbologia do anúncio
do quartel-general no espaço do conflito. Para o académico, o quartel-general
simboliza a tomada de posição turbulenta, porque “quando vimos polícia e
soldado isto não é um bom sinal, mas pode ser símbolo para forçar a
flexibilidade por parte do Governo para um outro modelo político”, salientou.
O académico frisou que há pouca vontade de se
fazer guerra no país, mas sim forçar um novo modelo de diálogo, pois o modelo de
diálogo do Centro de Conferências Joaquim Chissano está esgotado pelas razões
conhecidas.
Do Rosário enfatizou
que é preciso ler o que os dirigentes dizem, pois “Dhlakama disse num dos seus
comícios aos seus homens que se quiserem fazer a guerra não contem com ele;
para mim este quartel-general simboliza uma preparação para guerra mas também
pode ser que seja uma forma de forçar o diálogo numa posição de força”.
“É resultado de intolerância”
-Raul Domingos
Para o político e
antigo negociador do Acordo Geral de Paz, Raul Domingos, a activação do quartel-general
da Renamo, em Morrumbala, é resultado de intolerância e falta de vontade
política de se resolver as diferenças.
Para Domingos, o resultado disto parte da
arrogância na Assembleia da República que rejeitou o projecto de lei da
descentralização da administração pública em resposta da vontade expressa pelo
povo nas urnas.
“É preciso perceber que
sistematicamente a população tem emitido sinais da sua escolha política e é preciso
que os políticos saibam dar respostas a esses sinais emitidos pelo povo,
respeitar as vontades do povo tal como o fez o povo das zonas que a Renamo hoje
reivindica”, explicou o antigo negociador-chefe do Acordo Geral de Paz de Roma.
Para Raul Domingos, não
está nada perdido, embora isto evidencie um sinal de regresso a guerra, mas
isso só poderá vir a acontecer apenas quando persistir a intolerância, pois
acredita que ninguém está disposto a voltar a um conflito armado.
“A Renamo está contra a
vontade do povo moçambicano”
- Damião José
Para
o porta-voz da Frelimo, partido no Governo, Damião José, o anúncio da montagem
do quartel-general de Morrumbala pela Renamo mostra que ela cumpre agendas
contrárias às do povo moçambicano.
Segundo o porta-voz da
Frelimo, se a Renamo se desenrola em esforços para activação dos seus homens e
municiá-los, tal como ela defende a instalação de quartéis, a perdiz está com
isso a mostrar claramente que estão contra a vontade do povo moçambicano.
“E isso nos faz
questionar o que a Renamo como partido político quer, porque a existência dos
partidos é para trabalhar para o bem dos moçambicanos. Portanto, se a Renamo se
esforça em trabalhar contra o bem do povo moçambicano já não percebemos o que a
Renamo quer”, contestou.
O porta-voz e deputado
da Frelimo referiu que a Renamo cumpre agendas que não têm nada a ver com a
vontade dos moçambicanos mas com a vontade dos patrões, interessados em criar
um ambiente de desestabilização, pois ela tem sido incoerente consigo mesmo.
Damião José apela a
todos os moçambicanos a lutar sem medir esforços para desencorajar a todos
aqueles que tudo fazem para pôr em causa a paz, neste momento concreto a Renamo
e o seu líder Afonso Dhlakama, porque os moçambicanos são um povo de paz,
humilde, que quer continuar a construir a paz e a desenvolver o país.