quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014



CPLP lança campanha “Juntos contra a fome”
 
A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) lançou semana finda, em Maputo, a campanha “Juntos contra a fome”, um acto que tem como objectivo mobilizar fundos para a erradicação da fome na CPLP, onde se acredita que a fome afecta cerca de 250 milhões de pessoas, das quais 28 milhões sofrem de desnutrição crónica.
 
  By Elísio Muchanga
 
Os fundos, a serem angariados pela campanha, serão usados para a atribuição de terras aos agricultores e cidadãos que queiram praticar a actividade agrícola mas carecem de espaço para o efeito, bem como para a aquisição de insumos agrícolas.
 

O lançamento da campanha teve lugar à margem da XII Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que contou com a participação do primeiro-ministro Alberto Vaquina, que na ocasião disse não fazer sentido que a CPLP continue com 28 milhões de cidadãos afectados pela desnutrição crónica, se tivermos em conta que ela provoca “défices graves de nutrientes indispensáveis ao crescimento equilibrado das nossas crianças, afectando gravemente a sua capacidade de aprendizagem escolar”.
Para o primeiro-ministro, a quem coube o lançamento da campanha, ninguém pode dizer ou achar que este desafio não lhe diz respeito; a fome, ela encontra-se ao virar da esquina, no olhar da criança que vai à escola sem o pequeno-almoço e da mãe que acorda sem saber se os seus filhos terão alguma refeição no dia que amanhece.
“Com preocupação notamos que as crianças que hoje enfrentam a desnutrição crónica são potenciais vítimas do insucesso escolar e amanhã serão, provável e infelizmente, adultos pobres. E é este ciclo de injustiça e predestinação ao fracasso que urge rompermos”, acrescentou.

Para Vaquina, este é o momento de agir, porque “não podemos ficar indiferentes a uma realidade que diz respeito a todos nós! Este momento solene constitui o arranque da campanha ‘Juntos contra a fome’, que atingirá o seu auge a 16 de Outubro, quando celebrarmos o Dia Mundial da Alimentação”.

Referiu que foi com o objectivo de contribuir na erradicação da fome que Moçambique, quando assumiu a presidência da CPLP, em 2012, elegeu a “Segurança Alimentar e Nutricional” como lema central da sua presidência.

 O Fundo da Campanha “Juntos contra a fome” será constituído por contribuições voluntárias por parte do público em geral e das mais variadas entidades do mundo empresarial, político, artístico, desportivo e académico, através de donativos, chamadas telefónicas de valor acrescentado e outros meios.
O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Portugal, o moçambicano Hélder Muteia, vincou que a fome destrói a dignidade da condição humana e afecta o desenvolvimento cognitivo das crianças e, por isso, urge combater o mal ao nível da CPLP.

“A fome dói e mata. Marca negativamente gerações inteiras, descaracteriza o tecido social, adia sonhos e esperanças e mancha o processo e o desenvolvimento das pessoas, das comunidades e das nações. A fome também divide as pessoas e as nações”, disse.

 Disse ainda que as redes de telefonia móvel chegam aos recantos mais recônditos da terra, mas continua a existir gente que não tem um prato de comida e, assim, condenada a uma vida miserável ou uma morte inglória, despojada de direitos e valores morais e sociais.

“Por cada pessoa que morre nessas condições, a dignidade e grandiosidade da natureza humana e dos seus avanços também ficam drasticamente abalados e diminuídos”, afirmou Muteia.

O representante da FAO explicou que os recursos resultantes desta campanha servirão para complementar os esforços dos governos, dos seus parceiros, do sector privado e da sociedade civil em geral.

“Queremos ajudar os agricultores. Paradoxalmente, 80 porcento das pessoas que passam fome em África são agricultores. Praticam uma agricultura rudimentar que não permite sequer alimentar condignamente as suas famílias”.
O secretário executivo da CPLP, Murade Murargy, que também é moçambicano, afirmou que a CPLP pretende ter territórios livres da fome, com agricultores sem fome e crianças com um futuro próspero.
“São estes os três eixos nos quais em consonância com a estratégia de segurança alimentar e nutricional se baseia a Campanha da CPLP Juntos Contra a Fome”, disse Murargy, para de seguida afirmar que espera que a fome seja erradicada até 2025.

Em Moçambique, dados revelados pelo Ministério da Agricultura indicam que uma em cada duas crianças de idades compreendidas entre zero e cinco anos sofre de desnutrição crónica, fazendo quase 50 porcento de crianças afectadas.
O número total de pessoas que passam fome, ainda de acordo com o ministro da Agricultura moçambicano, José Pacheco, é de cerca de 300 mil, grande parte destas nas

zonas rurais.
 

 

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